Teresinense. Escreve com a luz e com as palavras. Vez ou outra troca direita e esquerda, e não acerta amarrar os próprios cadarços. Tropeça no vento e finge ter pulado de propósito, evitando o olhar do outro (mesmo de quem observa calado). Coleciona cabeças de bonecas, e só não esquece a própria cabeça porque está grudada ao pescoço. Viciada em romances asiáticos e chocolate roubado (rouba de si mesma, depois das promessas de vida saudável). Ativista autista. Evita atividade física e grosserias. Prefere palavras floreadas e melodias para dormir. Escuta a mesma música repetidamente. Cantarola melodias desafinadas com o vidro do carro aberto, em alto volume. Já não toca mais o piano da sala. Não suporta o som do telefone. Conhece bem o silêncio. Teme as horas contadas. Conserva um riso fácil, inclusive em horas inoportunas. Prefere dias nublados e as quatro paredes do quarto. Ama pessoas, mesmo sob influência de uma fobia social incômoda. Voa em pensamento, mas insiste em conservar os pés bem presos ao chão. Sonha, frequentemente, que tem asas. Tem medo de altura. Sua estatura é baixa.
Não lê partitura. Sonha, sempre, que tem asas. Voa em pensamento. Colecionadora de amores platônicos e bonecas. Diz de si sempre em terceira pessoa. Prefere gritos contidos e descarregar sentimentos para dentro. Conta, nos dedos de uma única mão, as vezes que explodiu. Implode em poesia, interrompida com suspiros avulsos. Discorda de lugares marcados e precisões drásticas. Quebra espelhos metafóricos com facilidade e evita encarar projeções de si refletidas, apenas por não reconhecer-se entre miragens. Também desaba com facilidade e espera sempre levantar-se, desdobrando-se em versos, poeticamente…